segunda-feira, 23 de maio de 2011

Álvares de Azevedo


Manuel Antônio Álvares de Azevedo nasceu em 1831, um gênio precoce que já falava francês, inglês e latim aos 10 anos de idade. Estudava Direito e participava de altas orgias em reuniões com outros grandes escritores românticos como seu amigo Bernardo de Guimarães. Além do maior poeta da tendência Mal do Século no Brasil, Álvares de Azevedo também escreveu contos e uma peça de teatro (Macário). Quando entrou na faculdade de Direito teve um pressentimento que não completaria o curso ao ver dois estudantes do quinto ano morrerem na sua frente. A morte foi uma constante em sua obra, já que o irmão morreu prematuramente e ele sentia fortes dores no peito. De fato, morreu meses após completar o quarto ano, com prematuros 20 anos de idade, de um tumor na fossa ilíaca descoberto após um acidente de equitação. Dois anos depois sua obra romântica, dividida entre Ariel (o bem) e Caliban (o mal), passou a ser publicada. Foi o maior poeta brasileiro da tendência do Mal do Século. Seguem passagens do livro de contos (Caliban) Noite na Taverna, uma amostra da poesia Se eu morresse amanhã (composta dias antes do acidente) e do livro de poesias Lira dos Vinte Anos.
Poeta que melhor representou a estética ultra-romântica. Tendência aos aspectos mórbidos e depressivos da existência, degeneração dos sentimentos, decadentismo e até satanismo. A escolha vocabular reflete essa tendência: "pálpebra demente", "matéria impura", "fúnebre clarão", "boca maldita", entre outros. Esta linguagem, acrescida de termos científicos, voltará no Simbolismo com Augusto dos Anjos.


"Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!"

" Quando falo contigo, no meu peito
esquece-me esta dor que me consome:
Talvez corre o prazer nas fibras d'alma:
E eu ouso ainda murmurar teu nome!" (Lira dos Vinte Anos)

"Pois bem, dir-vos-ei uma história. Mas quanto a essa, podeis tremer a gosto, podeis suar a frio da fronte grossas bagas de terror. Não é um conto, é uma lembrança do passado." (Noite na Taverna)

"A mulher recuava... Recuava. O moço tomou-a nos braços, pregou os lábios nos dela... Ela deu um grito, e caiu-lhe das mãos. Era horrível de ver-se. O moço tomou o punhal, fechou os olhos, apertou-os no peito, e caiu sobre ela. Dois gemidos sufocaram-se no estrondo do baque de um corpo..." (Noite na Taverna)

"Mais claro que o dia. Se chamas o amor a troca de duas temperaturas, o aperto de dois sexos, a convulsão de dois peitos que arquejam, o beijo de duas bocas que tremem, de duas vidas que se fundem tenho amado muito e sempre! Se chamas o amor o sentimento casto e poro que faz cismar o pensativo, que faz chorar o amante na relva onde passou a beleza, que adivinha o perfume dela na brisa, que pergunta às aves, à manhã, à noite, às harmonias da música, que melodia é mais doce que sua voz, e ao seu coração, que formosura há mais divina que a dela-eu nunca amei. Ainda não achei uma mulher assim. Entre um charuto e uma chávena de café lembro-me às vezes de alguma forma divina, morena, branca, loira, de cabelos castanhos ou negros. Tenho-as visto que fazem empalidecer-e meu peito parece sufocar meus lábios se gelam, minha mão se esfria..." (Macário)

"Esse amor foi uma desgraça. Foi uma sina terrível. Ó meu pai! ó minha segunda mãe! Ó meus anjos! Meu céu! Minhas campinas! É tão triste morrer!" (Macário)

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