segunda-feira, 30 de maio de 2011
Manuel Ântonio de Almeida
Escritor romântico de transição para o Realismo, Manuel Antônio de Almeida (1831-1861) se formou em Medicina mas era jornalista por excelência. Um de seus empregos antes do jornalismo foi assistente de tipógrafo. Só escreveu uma obra, que foi em vida assinada anonimamente por ele apenas como "Um Brasileiro". Este pseudônimo indicava que ele possivelmente não continuaria a carreira literária. Morreu tragicamente aos 30 anos de idade, no naufrágio do navio Hermes, enquanto fazia campanha para deputação federal. Seguem algumas passagens desta obra, Memórias de um Sargento de Milícias.
"O compadre compreendeu tudo: viu que o Leonardo abandonava o filho, uma vez que a mãe o tinha abandonado, e fez um gesto como quem queria dizer: - Está bom, já agora... Vá; ficaremos com uma carga às costas." Memórias de um Sargento de Milícias
"Passado o tempo indispensável de luto, o Leonardo, em uniforme de Sargento de Milícias, recebeu-se na Sé com Luisinha, assistindo à cerimônia a família em peso." Memórias de um Sargento de Milícias
Franklin Távora
João Franklin da Silveira Távora (1842-1888) nasceu no Ceará mas viveu em Pernambuco, onde se formou em Direito, e, a partir de 1874, viveu no Rio e Janeiro. Foi deputado estadual em Pernambuco e funcionário da Secretaria do Império no Rio. Foi além de contista e romancista um grande historiador, e como morreu pobre, o Instituo Histórico e Geográfico Brasileiro do qual fazia parte deu uma pensão a sua viúva e filho. Parte de sua obra de historiografia foi destruída no final de sua vida pelo próprio autor, que sentia-se abandonado e miserável. Franklin Távora criou a "literatura do Norte", como ele mesmo batizou no prefácio de O Cabeleira. Embora tenha atacado José de Alencar no começo da carreira, ele se arrependeu depois. Távora é um romântico pré-naturalista. mantendo poucas características do Romantismo mas não se desvencilhando totalmente deste. Entre as obras que fazem parte desta literatura do Norte destacam-se O Cabeleira e O Matuto.
"Pela sua organização, pelos seus predicados naturais, o Cabeleira não estava destinado a ser o que foi, nós o repetimos. Os maus conselhos e os péssimos exemplos que lhe foram dados pelos desnaturado pai converteram seu coração, acessível em começo, ao bem e ao amor, em um músculo bastardo que só pulsava por fim a paixões condenadas." O Cabeleira
"Morro arrependido de meus erros. Quando caí nos braços da justiça, meu braço era já incapaz de matar, porque eu já tinha entrado no caminho do bem." O Cabeleira
segunda-feira, 23 de maio de 2011
Joaquim Manuel de Macedo
Nasceu no RJ e formou-se médico. Fundou a revista Guanabara com Gonçalves Dias, foi redator de revista, secretário, orador do Instituto Histórico, político e professor. Amigo do imperador, tornou-se preceptor dos filhos da princesa Isabel. Um dos primeiros românticos, provavelmente o mais puramente romântico de todos na prosa, produziu diversos livros entre os quais os mais célebres são A Moreninha (que escreveu ainda muito jovem, com apenas 20, 21 anos de idade e lhe deu fama imediata), O Moço Loiro e A Luneta Mágica.
"No dia 20 de julho de 18... Na sala parlamentar da casa nº... Da rua de..., sendo testemunhas os estudantes Fabrício e Leopoldo, acordaram Felipe e Augusto, também estudantes, que, se até o dia de 20 de agosto do corrente ano, o segundo acordante tiver amado a uma só mulher durante quinze dias ou mais, será obrigado a escrever um romance em que tal acontecimento confesse; e, no caso contrário, igual pena sofrerá o primeiro acordante. Sala parlamentar, 20 de julho de 18... Salva a redação." (A Moreninha)
"Achei minha mulher!... Bradava Augusto; encontrei minha mulher!... Encontrei minha mulher!..." (A Moreninha)
José de Alencar
Escritor, político e advogado, José Martiniano de Alencar nasceu a 1º de maio de 1829 no Ceará e morreu de tuberculose aos 48 anos no Rio de Janeiro, em 12 de dezembro de 1877. Fez curso de Humanidades no RJ e formou-se em Direito em SP, onde foi colega de aula de Álvares de Azevedo e Bernardo Guimarães. Foi ministro da Justiça (1868-1870) e Senador do Império. Um de seus descendentes foi o Presidente Humberto de Alencar Castelo Branco. É considerado o maior escritor romântico brasileiro, tendo criado obras regionalistas, sociais e indianistas. Neste último estilo, que criou junto com Gonçalves Dias, enquadra-se O Guarani, que inspirou a célebre ópera de Carlos Gomes. Alencar foi também poeta e teatrólogo. Entre seus maiores romances estão O Guarani, Ubirajara, Iracema, Senhora, A Pata da Gazela, Diva, Lucíola, As Minas de Prata, A Viuvinha, Cinco Minutos, Til, O Gaúcho, O Sertanejo, Encarnação, Sonhos d'Ouro e O Tronco do Ipê.
Foi o consolidador do romance, um ficcionista que cai no gosto popular. Sua obra é um retrato fiel de suas posições políticas e sociais: grande proprietário rural, político conservador, monarquista, escravocrata, burguês. Pode-se perceber o medievalismo no personagem de O Guarani, Peri (bom selvagem) que deveria respeitar a realidade social de que ao senhor de tudo deve-se obediência, respeito e lealdade.
Defende o “casamento” entre o nativo e o colonizador numa troca de favores (temática presente em O Guarani - Ceci e família e Peri e em Iracema com Moacir, filho de Iracema e Martim. Tudo isso traduzido numa linguagem coloquial, diálogos bem feitos por sua formação de professor de Português.
Castro Alves
Antônio Frederico de Castro Alves nasceu a 14 de março de 1847 na cidade que hoje leva seu nome e morreu tuberculoso a 6 de julho de 1871. Tinha 15 anos quando se matriculou no curso de Direito em Recife, onde iniciou sua carreira poética, escrevendo poesia lírica e social (a social sendo a que mais o consagrou) a favor da abolição da escravatura, sendo por isso chamado de Poeta dos Escravos. Sua poesia lírica era menos idealizada que a de seus contemporâneos românticos, apresentando uma mulher mais sensual menos idealizada. Entusiasmou-se pelo teatro e casou-se com uma atriz chamada Eugênia Câmara, dez anos mais velha, que o abandonou mais tarde. Tempos depois do casamento, atira contra o próprio pé em uma caçada e tem o membro amputado. As caçadas tiveram sua origem justamente como escapatória das constantes brigas que o casal tinha começado a ter quando se mudaram para São Paulo. Mas após este infeliz acidente ainda pôde andar, ainda que com o auxílio de uma bengala e um pé de borracha. Em 1870 publica Espumas Flutuantes na Bahia, sua única obra poética publicada em vida. O que segue é uma passagem de seu célebre Navio Negreiro, parte de sua obra publicada postumamente em Os Escravos.
"Eras um sono dantesco... O tombadilho,
Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar,
Tinir de ferros... Estalar do açoite...
Legiões de homens negros como a noite
Horrendos a dançar" (Os Escravos)
Casimiro de Abreu
Comerciante, Casimiro José Marques de Abreu nasceu em 4 de Janeiro de 1839 no município de Barra de São João (que atualmente leva seu nome), levou vida boêmia e morreu tuberculoso em 18 de outubro de 1860, três anos após voltar de Portugal, onde estava a negócios. Sua poesia não foi muito inovadora, sendo considerado mais ingênuo dos românticos. Conhecido como "poeta da infância", fala muito da inocência perdida, como mostra a passagem abaixo. Um dos motivos de sua nostalgia era a intransigência do pai, que o obrigou a se tornar comerciante ao invés de lhe permitir ser poeta.
"Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!"
Álvares de Azevedo
Manuel Antônio Álvares de Azevedo nasceu em 1831, um gênio precoce que já falava francês, inglês e latim aos 10 anos de idade. Estudava Direito e participava de altas orgias em reuniões com outros grandes escritores românticos como seu amigo Bernardo de Guimarães. Além do maior poeta da tendência Mal do Século no Brasil, Álvares de Azevedo também escreveu contos e uma peça de teatro (Macário). Quando entrou na faculdade de Direito teve um pressentimento que não completaria o curso ao ver dois estudantes do quinto ano morrerem na sua frente. A morte foi uma constante em sua obra, já que o irmão morreu prematuramente e ele sentia fortes dores no peito. De fato, morreu meses após completar o quarto ano, com prematuros 20 anos de idade, de um tumor na fossa ilíaca descoberto após um acidente de equitação. Dois anos depois sua obra romântica, dividida entre Ariel (o bem) e Caliban (o mal), passou a ser publicada. Foi o maior poeta brasileiro da tendência do Mal do Século. Seguem passagens do livro de contos (Caliban) Noite na Taverna, uma amostra da poesia Se eu morresse amanhã (composta dias antes do acidente) e do livro de poesias Lira dos Vinte Anos.
Poeta que melhor representou a estética ultra-romântica. Tendência aos aspectos mórbidos e depressivos da existência, degeneração dos sentimentos, decadentismo e até satanismo. A escolha vocabular reflete essa tendência: "pálpebra demente", "matéria impura", "fúnebre clarão", "boca maldita", entre outros. Esta linguagem, acrescida de termos científicos, voltará no Simbolismo com Augusto dos Anjos.
"Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!"
" Quando falo contigo, no meu peito
esquece-me esta dor que me consome:
Talvez corre o prazer nas fibras d'alma:
E eu ouso ainda murmurar teu nome!" (Lira dos Vinte Anos)
"Pois bem, dir-vos-ei uma história. Mas quanto a essa, podeis tremer a gosto, podeis suar a frio da fronte grossas bagas de terror. Não é um conto, é uma lembrança do passado." (Noite na Taverna)
"A mulher recuava... Recuava. O moço tomou-a nos braços, pregou os lábios nos dela... Ela deu um grito, e caiu-lhe das mãos. Era horrível de ver-se. O moço tomou o punhal, fechou os olhos, apertou-os no peito, e caiu sobre ela. Dois gemidos sufocaram-se no estrondo do baque de um corpo..." (Noite na Taverna)
"Mais claro que o dia. Se chamas o amor a troca de duas temperaturas, o aperto de dois sexos, a convulsão de dois peitos que arquejam, o beijo de duas bocas que tremem, de duas vidas que se fundem tenho amado muito e sempre! Se chamas o amor o sentimento casto e poro que faz cismar o pensativo, que faz chorar o amante na relva onde passou a beleza, que adivinha o perfume dela na brisa, que pergunta às aves, à manhã, à noite, às harmonias da música, que melodia é mais doce que sua voz, e ao seu coração, que formosura há mais divina que a dela-eu nunca amei. Ainda não achei uma mulher assim. Entre um charuto e uma chávena de café lembro-me às vezes de alguma forma divina, morena, branca, loira, de cabelos castanhos ou negros. Tenho-as visto que fazem empalidecer-e meu peito parece sufocar meus lábios se gelam, minha mão se esfria..." (Macário)
"Esse amor foi uma desgraça. Foi uma sina terrível. Ó meu pai! ó minha segunda mãe! Ó meus anjos! Meu céu! Minhas campinas! É tão triste morrer!" (Macário)
Gonçalves Dias
Gonçalves Dias
Orgulhoso de ter o sangue de índios, negros e brancos em seu corpo, Antônio Gonçalves Dias nasceu a 10 de agosto de 1823 no Maranhão e morreu a 3 de novembro de 1864. Gonçalves Dias foi um poeta romântico indianista e bacharel em Direito pela universidade de Coimbra. Sua poesia trouxe a admiração da crítica e do rei, que o nomeou para vários cargos públicos e lhe permitiu viver mais confortavelmente, tendo viajado pelo Norte do Brasil a serviço da corte. Também fez teatro. Recusado pela família de sua amada, casou-se com outra e, doente, viajou a Europa para se tratar. Quando o governo cortou o subsídio que lhe concedia em 1864, decidiu voltar ao Brasil. Na volta, morre no naufrágio do "Ville de Boulogne" por estar doente, já que foi abandonado de cama em estado deplorável enquanto todos os outros se salvaram. Alguns de seus poemas indianistas mais famosos são I-Juca Pirama e Os Timbiras. Primeiro grande poeta do Romantismo brasileiro. A temática indianista que caracteriza sua obra apresenta forte colorido e ritmo. Seu grande poema indianista Os Timbiras ficou incompleto, pois durante o naufrágio em que o poeta morreu perderam-se também os textos. Além da vertente indianista, também se destaca a lírica amorosa, mas não apresenta passionalidade. Aqui a mulher é sempre um anjo, idealizada, numa ótica platônica.
"Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá." (Canção do Exílio)
"Eu vi o brioso no largo terreiro,
Cantar prisioneiro
Seu canto de morte, que nunca esqueci:
Valente como era, chorou sem ter pejo;
Parece que o vejo,
Que o tenho nest'hora diante de mi." (I-Juca Pirama)
"Por onde quer que fordes de fugida
Vai o fero Itajuba perseguir-vos
Por água ou terra, ou campos, ou florestas;
Tremei!..." (Os Timbiras)
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